“Não é um show, é uma festa!”, exclamou o sexagenário diante de centenas de fãs em êxtase. O 50º aniversário do hip-hop será comemorado no dia 11 de agosto, com um show gigante no Yankee Stadium, em Nova York.
Naquele dia de 1973, no andar térreo de um prédio de baixa renda na 1520 Sedgwick Avenue, no Bronx, o DJ jamaicano Clive Campbell, também conhecido como DJ Kool Herc, inovou: girando o mesmo disco em dois toca-discos, ele isolou sequências de ritmos e percussões e as fez se prolongar nos alto-falantes, numa técnica precursora do “breakbeat”, componente essencial da música hip-hop.
Sessões de graffiti e “breakdancing” em bibliotecas, festas públicas conhecidas como “block parties”, concertos fazem parte das inúmeras iniciativas que acontecerão ao longo do verão boreal para comemorar meio século de um movimento que nasceu no Bronx como uma fuga da pobreza e da discriminação de afro-americanos e hispânicos.
Hoje em dia, se tornou um fenômeno multimilionário que inspira não apenas a música, mas também esportes e moda.
‘Outra era’
— Foi a música que realmente ressoou com os tempos em Nova York. Era uma cidade crua e rude, quase fora da lei, uma época diferente — diz Quentin Morgan, de 54 anos, que foi de bicicleta ao show para absorver a atmosfera de lembrança e nostalgia.
Grandmaster Flash e o grupo Furious Five lançaram seu hit “The Message” em 1982, cuja letra e videoclipe lançaram uma nova luz sobre as duras condições urbanas, econômicas e sociais de Nova York, então devastada pela pobreza e pelo crime.
Na noite de sexta-feira, Flash conseguiu recriar a vibe elétrica dos anos 70 e 80 ao convidar os rappers “MC” Melle Mel (Melvin Glover) e Scorpio (Eddie Morris), membros do Furious Cinco.
A AFP conversou com Coke La Rock, de 68 anos, que esteve presente no histórico dia 11 de agosto de 1973 e que os musicólogos consideram o verdadeiro fundador do hip-hop.
Os “filhos” do rap
Para Coke La Rock, o Bronx e o hip-hop são a mesma coisa, porque “ele não vê diferença” entre o bairro e o gênero. O artista se vê até como o pai, a “patente” do rap, e todos os jovens músicos americanos e estrangeiros hoje como seus “filhos”, seus “produtos”.
Para Flash, a festa de sexta-feira foi uma reminiscência de sua juventude.
— Nossas mães sempre nos diziam para sair e brincar. Nunca imaginei que faria parte da melhor música do mundo — disse o músico após o show.
Segundo os organizadores, o Flash não se apresentava no palco há 20 anos. Diante de tal evento, o prefeito democrata de Nova York, Eric Adams, um ex-capitão de polícia afro-americano com reputação de durão, declarou 4 de agosto de 2023 como o “Grandmaster Flash Day”.